Rafael Begnini de Castilhos

Desafios para a inclusão digital na terceira idade

13/12/2019

Resumo

A evolução que as tecnologias da informação têm sofrido está dificultando o acompanhamento da população idosa, assim ficando excluída deste processo. Não só a falta de conhecimento e de acesso contribuem para essa situação, mas também o alto custo de equipamentos e programas. O presente artigo propõe-se a explorar o universo da exclusão social, a sociedade perante o envelhecimento da população, o avanço tecnológico e a importância da inclusão digital na terceira idade. Por fim, tem como intuito evidenciar e discutir propostas de inclusão digital e políticas públicas no Brasil hodierno.

Palavras-chave: Tecnologia da Informação, Inclusão Digital, Dificuldades, Terceira Idade.

Introdução

(...) na sociedade moderna, os idosos – tendo direitos garantidos (...) – dão origem a um novo conceito de envelhecimento, o dos aposentados, que passam a ser percebidos dentro de novas políticas administrativas e governamentais. Surge então a ideia de integração desses recém aposentados, originando o termo "Terceira Idade", numa visão de envelhecimento, de perspectiva de realização de diversas atividades e de vida.

O presente artigo tem como objetivo analisar as dificuldades da inclusão digital na terceira idade, explorando este universo com o fito de provocar uma discussão sobre o envelhecimento em uma era totalmente digital.

Segundo dados do IBGE, a expectativa de vida do brasileiro em 2010 aumentou 0,3 anos, alcançando 73,5 anos de vida comparados com 72,2 em 2009. Ao envelhecer o ser humano se depara com diferentes situações e precisa estar em constante aprimoramento e adaptação. Nota-se, assim, que não se vive em um mundo isolado, e sim em uma rede de relações sociais, nessa visão o idoso se depara com as modernidades da vida hodierna, dentre elas, a tecnologia.

Pode-se constatar que a tecnologia está presente em toda parte: ao utilizar o telefone, ao assistir televisão, no agendamento para consultas médicas ou para contar o tempo de serviço no Instituto Nacional da Seguridade Social, ao utilizar um terminal bancário, declarar imposto de renda, urna eletrônica, na pesquisa de rota para saber como chegar a um determinado endereço, ao pesquisar a bula de um medicamento, entre outros.

Em virtude da revolução tecnológica e da informação digital que se faz presente e necessária na vida de qualquer cidadão, e consequentemente da sociedade, o conhecimento e domínio da tecnologia torna-se fator essencial para a inclusão do sujeito na sociedade.

Diante desses fatos, faz-se necessário a busca de soluções que permitam um envelhecimento saudável. Dessarte, assim, que indivíduo deve adentrar a terceira idade sem perder a conexão com o mundo que o cerca, que hoje é totalmente digital. Desse modo, as tecnologias que estão em constante avanço, torna-se evidente que a busca por conhecimento deve ser contínua.

Exclusão Digital

Preambularmente, é imperioso destacar que a inclusão no mundo digital não é somente uma forma de inserção, mas também um fator primordial para que um sujeito continue ativo em suas tarefas cotidianas e que possa interpretar o cenário que o cerca. Frente a uma comunidade cada vez mais tecnológica, o idoso sofre à uma dupla exclusão, por não possuir acesso e por não poder executar atividades do cotidiano.

Para Fabiana Martendal (2015, p. 2), uma revolução tecnológica está ocorrendo em todo o mundo, porém é importante ressaltar que no Brasil ainda se apresentam sérios problemas sociais de desigualdade que refletem na desigualdade digital. A exclusão digital ocorre devido a diferentes fatores, dentre eles estão o escasso conhecimento, dificuldade de engajamento com dispositivos eletrônicos e a falta de acesso a provedores de internet ou banda larga.

Considerando que o acesso às tecnologias de informação e comunicação não contempla toda a sociedade torna-se necessário criar estratégias que propiciem o acesso de forma universal, ou seja, abranger e promover de forma democrática a inclusão digital e a capacitação para a utilização dessas tecnologias de acordo com a necessidade do corpo social.

Dessa forma, evidencia-se que o excluído digital precisa estar motivado para superar esse desafio, pois, muitos acreditam que a tecnologia da informação faz parte da nova geração, e acaba não se sentindo no direito de usufruir das mesmas.

Sociedade perante o Envelhecimento da População

A sociedade não está plenamente preparada para o envelhecimento de sua população. Percebe-se isso ao se observar o crescente número de serviços e produtos que agora surgiram, aproveitando-se desse nicho de mercado.

Nesse viés, trata-se de um grupo de pessoas que pode escolher como pretende preencher suas horas disponíveis, seja adquirindo bens de consumo e serviços que auxiliem seu dia a dia, ou seja viajando e conhecendo novas tecnologias.

No entanto, são poucos os idosos que têm acesso à Internet regularmente no Brasil, de acordo com a pesquisa do IBOPE de 2015, apenas 7% dos internautas brasileiros têm idade acima de 55 anos.

Ademais, o idoso da atualidade gosta de estar inserido na onda tecnológica, quer aprender e conhecer novos equipamentos, serviços rotineiros como pagar contas e fazer compras se tornam parte do lazer.

O Avanço Tecnológico e a Importância da Inclusão Digital na Terceira Idade

Primeiramente, convém destacar que o ciberespaço é um novo campo de interação humana que já tem uma importância significativa no plano científico e econômico na sociedade. Desse modo, a inclusão tecnológica e a social fazem parte de um sistema homogêneo que precisa funcionar em perfeita harmonia, até porque caminhamos cada vez mais entre o mundo virtual e o mundo real.

Segundo Janguiê Diniz, para que a inclusão digital aconteça, é preciso três instrumentos básicos: computador, acesso à internet e domínio dessas ferramentas, já que, não basta apenas o cidadão possuir um computador conectado à internet para ser considerado um incluído digital. Contudo, os instrumentos básicos não são suficientes para garantir a total inclusão. Saber utilizar as tecnologias proporcionará ao idoso uma aproximação com os amigos e familiares, contribuindo para o contato com pessoas e prevenindo o ócio e a solidão.

Em segundo plano salienta-se que o aprendizado tecnológico depois dos 60 anos possibilita novas descobertas, novas experiências e novas vivências resultando no grande aprimoramento das demais habilidades sem perder os valores ou objetivos de vida. Graças à promessa de realidade virtual, realidade aumentada, ativação de voz e hologramas, o futuro é esplêndido e repleto de inúmeras possibilidades. Mas a adoção de mídia social e uso de internet entre adultos mais velhos ainda tem suas desvantagens, incluindo a distração e recursos confiáveis, que precisam ser trabalhados na maneira correta.

O idoso deve continuar em constante processo de aprendizagem, isso fará com que consiga obter autonomia nas suas atividades diárias, sendo capaz de levar um estilo de vida independente. Neste caso, é necessário oferecer cursos específicos para que esse público não se sinta excluído e lesado diante dos jovens. Apesar de dúvidas frequentes e maior dificuldade de adaptação, a terceira idade está cada vez mais disposta a se inserir nesse meio.

Propostas de Inclusão Digital e Políticas Públicas

A cultura informacional vai muito além do conhecimento, da mobilização e sensibilização da sociedade para a manipulação no uso da informação. Transcende o resultado mecânico esperado de uma simples acumulação de tecnologias da informação, para maximizar o efeito de um processo de desenvolvimento no que democratiza o conhecimento para favorecer a equidade social.

Dessa maneira, segundo Gouveia (2002, p. 11), se faz necessário para garantir a justiça social, a ética e o respeito aos direitos humanos do cidadão, que o Estado lhe garanta condições e ferramentas para prover o acesso à tecnologia da informação ou, que viabilizem que outros o façam.

Sob essa perspectiva, o Estatuto do Idoso assegura no seu artigo 21, parágrafo 1º - “Os cursos especiais para idosos incluirão conteúdos relativos às técnicas de comunicação, computação e demais avanços tecnológicos, para sua integração à vida moderna” (BRASIL, 2010, p. 5). Desta forma pretende-se destacar a importância da inclusão digital na vida do idoso, sendo uma alternativa em nível de programas e projetos que o profissional de serviço social possa intervir decisivamente e contribuir para a qualidade de vida desse corpo social.

O Governo Federal tem como proposta de intervenção projetos como o “PC Conectado” e “Informática para todos”, voltado para as classes sociais C, D e E. Em contrapartida não existem muitos projetos destinados para os idosos, o que de certa forma corrobora com o desequilíbrio social. Todos os programas preocupados com a inserção da terceira idade são desenvolvidos pelas Prefeituras Municipais de cada unidade federativa ou pela Associação Brasileira dos Aposentados e Pensionistas (ASBP).

O projeto para a inclusão digital para pessoas na Terceira Idade da ASBP tem como objetivo compartilhar conhecimentos na área de informática e proporcionar a conexão delas com a tecnologia facilitando o manuseio dos equipamentos eletrônicos. Além disso, a complexidade e abrangência dos temas abordados integram uma grande oportunidade de exercitar a mente, a memória e aumentar a sua autoestima, grandes aliados do envelhecimento saudável como um todo.

Conclusão

O idoso no século XXI tem enfrentado muita dificuldade para acompanhar as constantes atualizações das tecnologias de informação. A exclusão social que a terceira idade enfrenta, em razão de sua idade e de suas limitações, hodiernamente é agravada pela exclusão digital, na falta de conhecimento e acesso às variadas tecnologias.

Apesar do avanço tecnológico, das conquistas e propostas implementadas, ainda existe uma grande parcela de pessoas que não possuem acesso às tecnologias básicas, muito menos às inovações tecnológicas.

É importante ressaltar que a inclusão digital detêm como um de seus eixos, que se soma com as outras estratégias de intervenção que buscam a promoção social da comunidade. Diante disso, um entrave se manifesta, o de motivar nossos idosos para busca de novos conhecimentos e oportunidades de aprendizagens, com intuito de continuarem ativos acompanhando as alterações da sociedade moderna.

Motivar o idoso a continuar querendo aprender mesmo com suas limitações e preconceitos deve ser função da família e também da sociedade. Visando a homogeneização dos usuários, é necessário que este tema demande uma análise em relação às políticas públicas e as ações do corpo social, buscando programar ações de motivação, valorização e capacitação de idosos para a inclusão digital. Fica evidente, portanto, que a inclusão digital não é tarefa simples, mas é um caminho que todos deveriam defender. Enfim, é a fase da vida que todos esperam participar um dia.

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